Você veste a camisa da empresa?

02/01/2023

Américo Perin

 

Lá pelo fim dos anos 60, recém-saído da vida militar, comecei a procurar uma colocação profissional na vida civil. Foi difícil. Para variar, o Brasil estava em crise... E aquele seria meu primeiro emprego. Mas consegui me colocar no mercado de trabalho e uma das minhas qualidades, que logo chamou a atenção dos empregadores, foi que eu me sentia parte integrante da empresa. Quando me referia a ela, dizia “nós”, e isso foi percebido muito rapidamente pelos meus superiores hierárquicos.

A consequência imediata foram as promoções sucessivas e os vários convites de outras empresas que buscavam um funcionário com aquele perfil. Na verdade, as empresas precisam de colaboradores que vistam a camisa. Principalmente em épocas de crise. Vestir a camisa da empresa significa pensar e se sentir como parte da empresa, tendo noção de que, se a empresa for bem, você também vai bem, e, se a empresa for mal, consequentemente você também irá mal.

Certa vez, numa grande multinacional, um funcionário do escritório, para fazer alguma graça, jogou um clipe num colega que estava na mesa à sua frente. Naquele momento, entrava na sala um gerente, alemão, que, com um sotaque muito forte, mostrou sua indignação, perguntando ao “brincalhão” se ele já havia pensado na consequência para a empresa se cada um dos 45 mil funcionários fizesse isso pelo menos uma vez no dia; quantos clipes seriam desperdiçados? E fazendo a conta do preço de todos os clipes desperdiçados, o prejuízo ao final do ano seria assustador! E pior: se o objeto lançado ferisse o colega a ponto de ele precisar se afastar do trabalho por uma licença médica? Maior o prejuízo...

Perceber o que acontece à sua volta é vestir a camisa. Isso é ver o que pode estar errado ao seu redor e, mesmo que não seja sua atribuição, tentar resolver, pois, quanto mais custo a empresa tiver, menos sobra para um possível aumento de salário. Quantas vezes você saiu da sala e não apagou as luzes? Não é meu... o patrão é rico... Esse funcionário que está sempre jogando contra a empresa, que diz o patrão é rico, infelizmente está literalmente “dando um tiro no pé”. Fatores como características pessoais trazidas de casa e que ajudaram na formação da personalidade do indivíduo são, sem dúvidas, determinantes que regem o comportamento de cada um. E são essas determinantes que fazem a diferença na hora de uma promoção ou aumento de salário. Em outras palavras, no sucesso ou insucesso de cada um ao longo de sua vida profissional e até na vida familiar que vier a ter.

Todo grupo que age com um interesse comum almeja o mesmo objetivo. Você se sente inserido plenamente no seu grupo? Você já pensou no que você pode fazer e o que poderia sugerir para melhorar as condições adversas que, porventura, possam surgir no caminhar do seu grupo rumo ao objeto comum? Sua contribuição é muito importante, principalmente quando o grupo vive dias não tão prósperos. Então, em vez de simplesmente abandonar o barco, lembre se que sua opinião somada à dos outros colegas pode ser a determinante de como tudo pode mudar para melhor! Não se esqueça: os tempos mudam e imagine todos saberem que a empresa saiu da crise, agora produz mais e melhor, reduz melhor seus custos por uma ideia que partiu de você? Já pensou nisso? Agora sim, você vestiu a camisa da empresa. Parabéns pelo sucesso que você ajudou alcançar. Agora colha os frutos do seu empenho.

Além da sua satisfação pessoal, do seu bem-estar psicológico e financeiro, você continuará tendo a segurança de um bom emprego, o que certamente não estará acontecendo com outros que fugiram dos “momentos difíceis” optando por uma atitude imediatista e egoísta em relação ao grupo. Que venha 2023. Que venham novos governantes. Que venham escolas com boa qualidade de ensino. Que se organizem cooperativas de trabalho nas regiões do país onde o clima, o solo, a saúde e a instrução do povo não “facilitam as coisas”... Amém.